Horta do Papa: uma agrofloresta escondida no bairro Mangabeiras
Por Gabriela de Castro
Em meio aos grandes muros das casas do bairro Mangabeiras, há uma floresta em ambiente urbano. Essa é a proposta da Horta do Papa, localizada na Rua Agripa de Vasconcelos, 215. Com o objetivo de produzir alimentos orgânicos fora da lógica da monocultura, aceitando a biodiversidade da floresta, a iniciativa, atualmente desenvolvida por Flávio Mourão Meira e Rafael Silva Pereira Vale, é desconhecida por muitos belorizontinos.
Para Flávio Meira, a maior parte da vizinhança não possui uma interação direta com a agrofloresta: “Aqui, todo mundo fica meio que atrás dos muros. É muito difícil você interagir com as pessoas das outras casas. Fica todo mundo dentro da própria residência. Eventualmente, há interações com vizinhos de muro. A comunidade local é mais elitizada, então, percebemos que muitas pessoas consideram ainda uma loucura (a agrofloresta) e são poucos os que interagem com a proposta”.
Meira explica que iniciativas como a Horta do Papa são comuns em outras capitais do Brasil, apesar de ser novidade em Belo Horizonte. “De forma geral, a agricultura na cidade ainda é uma resistência. Neste sentido, Belo Horizonte não é igual a cidades como Curitiba, onde há uma colônia agrícola com quarteirões de 1 Km no meio da cidade para as pessoas construírem hortas comunitárias. Aqui, em BH, essa ideia ainda não deslanchou, mas existem algumas iniciativas, principalmente nas regiões periféricas, mas falta um engajamento maior da sociedade”.
A Horta do Papa teve origem quando Meira se interessou pela agricultura: “Eu também estudei na FUMEC, fiz administração, então eu vim desse meio empresarial. No momento da minha vida que estava me tornando vegano, acabei entrando em contato maior com o plantio e me envolvi com isso, trocando o terno pela enxada”. Depois, Rafael Vale se juntou à iniciativa. Para ele, a ideia de agrofloresta passa pelo aprendizado com a natureza: “Sobre a agroecologia, eu bebo muito da água do Ernst Götsch, um suíço que veio para o Brasil e pegou uma terra degradada para reflorestar. A ideia de agrofloresta está muito relacionada a aprender com a própria natureza ao produzir culturas entendendo a dinâmica da floresta.”
A agrofloresta possui cultivos de alimentos como limões, abacates, alface e bananas. Essas produções, de acordo com Meira, tem vários destinos: “Temos cestas que entregamos e, às vezes, participamos de feiras. Além disso, trocamos com outros agricultores, fazemos muita catira. E tem as doações, volta e meia doamos para a Cozinha Solidária por exemplo. E consumo próprio também.” Entretanto, para Meira, falta um maior engajamento da população local com a Horta do Papa: “Existe uma certa aproximação da prefeitura com projetos de agroecologia. Uma delas é o curso Trilha da Agroecologia, que já fiz e foi muito enriquecedor. Acho que o ponto principal seria maior engajamento da população, das pessoas correrem atrás… Mas isso é algo que está mudando, percebo que as novas gerações estão mais engajadas com essas questões.”
Vale destaca que esse engajamento maior poderia ser possibilitado por meio do aumento da visibilidade à agroecologia: “O que eu mais sinto falta é a questão da propaganda mesmo. O que mais vemos é publicidade do “Agro é Pop” e não vemos do “Agroecologia é Pop”. Acho que se existisse algum apoio de política pública e emenda parlamentar para a propagação da agroecologia auxiliaria bastante quem trabalha com agroecologia”.
Meira e Vale deixam também o convite à população que frequenta a região do Mangabeiras para conhecer a Horta do Papa e para realizar trabalho voluntário na agrofloresta.