Esquerda Literária é pioneira na utilização da livraria como instrumento de militância

Gabriela de Castro, Welington dos Santos, Manuel Lopez, Ana Luíza Cavalcanti, Anne Esther Vieira

A concentração de diversas livrarias na Savassi não é novidade para quem conhece a região. Entretanto, uma delas, que possui um claro posicionamento político, ainda é desconhecida por muitos que frequentam esses estabelecimentos. “Esquerda Literária” é o nome da loja que ocupa um espaço dentro do Edifício Comiteco, na rua Antônio de Albuquerque, há mais de 30 anos. Sob a administração do historiador e militante Antônio de Pádua Borges, a comercialização de títulos selecionados é uma ação de ativismo e fomentação do pensamento crítico.

A iniciativa surgiu quando Borges trabalhava com a comercialização da revista “A Teoria e Debate”, encapada pela Fundação Perseu Abramo. Posteriormente, a organização começou a publicar livros, que eram vendidos pelo historiador em eventos do Partido dos Trabalhadores (PT). Depois, outros partidos de esquerda o procuraram para expor livros em seus eventos, como o PCdoB e o PSOL. Com o desenvolvimento deste trabalho, surgiu a necessidade de um espaço maior para os livros, uma vez que estavam em salas alugadas, também no Edifício Comiteco, e o espaço era insuficiente. Dessa forma, o formato da livraria apenas foi transportado do sexto andar do prédio para o piso.

Antônio de Pádua Borges é historiador e fundador da Esquerda Literária

Universidade

A livraria se mantém através, principalmente, da participação em eventos de universidades e espaços de propagação de conhecimento. É dessa forma que pessoas do meio universitário conhecem a Esquerda Literária. José Luiz Quadros de Magalhães, professor doutor da UFMG e PUC MG e presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, é um exemplo. Depois da participação em um evento acadêmico, ele se tornou cliente da loja. Além disso, o estabelecimento é frequentado pelos ativistas da cidade. “É um público variado. Inclusive, militantes da velha guarda da esquerda belorizontina também frequentam aqui. Tenho muitos clientes na faixa de 60 a 80 anos e pessoas com até mais idade ainda vêm comprar livros.” 

“À medida que os eventos acontecem, mais pessoas de várias gerações são agregadas, então é um público bem diverso”, explica Borges. A divulgação da Esquerda Literária acontece no boca a boca entre o público, pois o idealizador acredita no modelo de livraria física, utilizando como propaganda a vitrine com diversos títulos. Entre eles, biografias, clássicos teóricos, romances e até mesmo livros infantis, todos voltados para o pensamento à esquerda.

Acervo

A loja é ainda a única representante física da editora LavraPalavra em todo o Brasil, tendo a venda dos exemplares como diferencial. “Encontramos grandes autores das principais editoras brasileiras, e por esse motivo frequento praticamente todas as semanas e acompanho os lançamentos. Sem dúvida, é uma das livrarias mais completas com  relação ao pensamento crítico e de esquerda”, conta Magalhães. Títulos de editoras como Boitempo, Anita Garibaldi, Editora Elefante e Autonomia Literária são escolhidos a dedo pelo dono para a comercialização: “Não é um investimento. Vejo-me mais como um militante do que como um comerciante. Se eu fosse apenas um comerciante, estaria informatizado, com funcionários trabalhando para mim, procurando investidores, vendendo livros de temas mais abrangentes. Por fim, minha função é um trabalho de militância que ajuda a sobrevivência da livraria a partir do momento que eu trabalho com prazer”, relata Borges. “Precisamente, é essa a minha intenção. Da direita, não desejo nem o dinheiro.”

Livraria Esquerda Literária

Loja 14, Ed.Comoteco, R. Antônio de Albuquerque, 749 – Funcionários, Belo Horizonte – MG, 30112-010

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