Júlio Fessô: líder por vocação, apesar de tudo e em benefício de todos

Por Ana Luíza Adolfo e Igor Adriano

Localizado na região Centro-Sul de Belo Horizonte, o Morro do Papagaio conta, desde 2013, com a ajuda de um líder pra lá de especial. Estudante de Ciências Socioambientais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Júlio César Evaristo de Souza ou Júlio ‘Fessô’, como é popularmente conhecido na comunidade, é nascido e criado no Morro do Papagaio e compartilhou um pouco de sua trajetória com a reportagem do jornal O Ponto.

Influenciado pela mãe e pela avó, que sempre se dispuseram a se movimentar em prol da comunidade onde moravam, Júlio se viu envolvido pelas ações sociais desde pequeno. Sua primeira participação direta foi, em 2013, no Programa de Controle de Homicídios Fica Vivo, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), quando atuou como oficineiro de serigrafia, hip-hop e poesia. Vendo seu potencial, os populares pediram para que Júlio seguisse à frente da Associação dos Moradores, a fim de lutar por melhorias na comunidade.

Em 2015, veio a criação de seu primeiro grande projeto, o “Eu Amo Minha Quebrada”, que surgiu com o objetivo de mostrar a favela como ela realmente era. “Na época, eu consegui algumas câmeras fotográficas e convidei crianças, adolescentes e jovens para tirar fotos de locais legais da favela e postar nas redes sociais. Naquele momento, a rede mais usada era o Facebook. Com isso, a gente ia mostrar que a favela tinha coisa bacana também”, completa o líder de 48 anos.

O tempo foi passando e o que era uma oficina de fotografias, hoje conta com a Rua do Livro, o Pontapé Inicial, o Recicla Kids, pré-Enem e muitas outras iniciativas. Apesar disso, o presidente da associação ressalta que o projeto “Eu Amo Minha Quebrada” é mantido com dificuldade, já que não conta com nenhum tipo de ajuda do estado ou do município. “A gente faz tudo com a ajuda do terceiro setor, de pessoas comuns e por meio de doações, vaquinhas virtuais e coisas do tipo”, completa.

Pai de seis filhos, sendo três biológicos e três adotivos, Julio Fessô fala sobre seu maior sonho para a comunidade. O líder relembra que, ainda quando criança, acompanhou um presidente da associação dos moradores que conseguiu uma verba e usou para pavimentar becos e realizar outras melhorias na comunidade. Atualmente, Julio vê a necessidade de refazer a maioria dessas obras. “É um sonho meu reformar os becos porque a favela envelheceu, né? Então, muitas pessoas não conseguem nem sair de casa por causa da falta de acessibilidade. Sendo assim, um dos meus sonhos é tornar o Morro do Papagaio uma favela acessível, na medida do possível, mesmo sabendo que nada é fácil por aqui”, ressalta.

Além disso, o líder falou sobre a importância de fazer com que a favela acompanhe melhorias no âmbito da sustentabilidade. Segundo ele, que é também líder climático, certificado por Albert Arnold Gore Jr. (Al Gore), ex-vice presidente dos Estados Unidos, a educação ambiental tem sido fortemente abordada com os moradores, na intenção de tornar a favela mais sustentável, trabalhando compostagem, porta vertical, telhado verde, captação de água da chuva, reciclagem e o descarte correto do lixo. “Quem mais sofre com os impactos negativos? São as periferias, os quilombos, os ribeirinhos, as ocupações e por aí vai. E trazendo essas discussões para dentro da comunidade, a gente envolve os moradores nesse processo e mostra que também somos capazes de contribuir de forma positiva para a preservação do meio ambiente, tornando aqui uma favela modelo”, frisa Julio Fessô.

Quando perguntado sobre seu futuro à frente da Associação, o líder, que cumpre seu segundo mandato como presidente, ressaltou que já pensou em deixar o cargo. Para ele, a atual vice-presidente, Elaine Pinheiro, seria uma ótima substituta, já que em um passado não tão distante mostrou seu potencial quando regularizou toda a situação do CNPJ da associação e segue mostrando sua competência diariamente. Entretanto, Julio afirma que não pretende se afastar dos movimentos sociais. Ele entende que é um líder comunitário por vocação. Quando questionado sobre quem seria Júlio César fora da associação dos moradores, a resposta só reafirma esse ponto: “Fora da Associação, sigo líder social. Por onde vou, dentro ou fora do morro, diariamente sou abordado por alguém que traz uma demanda, faz uma reclamação ou um agradecimento por alguma ajuda que recebeu. Não consigo fugir dessa realidade/responsabilidade”, completa.

Leave comment

Your email address will not be published. Required fields are marked with *.