Parque Municipal recebe nova muda de jequitibá-rosa

Por Gabriela Castro

Rei e gigante da floresta: esses são os apelidos mais conhecidos do jequitibá, uma das mais altas espécies de árvore do Brasil e considerada a mais antiga. A categoria típica da Mata Atlântica já se tornou musa do sambista José Ramos através dos tambores da Mangueira, e foi musicada também pela viola dos sertanejos Goiá e Belmonte. Entretanto, essa mesma árvore que se tornou personagem da novela “Renascer”, representando força e resistência, encontra-se em vulnerabilidade. Como medida de preservação dessa espécie, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) plantou, em abril desse ano, um jequitibá-rosa no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no centro da cidade.  

A muda de jequitibá, proveniente do viveiro de produção de mudas arbóreas da Fundação de Parques e Zoobotânica (FPMZB), foi plantada para promover o enriquecimento da flora do espaço. “O manejo ambiental do Parque considera diversos fatores antes de decidir e executar o plantio de árvores no local, tais como as características da árvore, adequação ao espaço escolhido, importância histórica ou para o ambiente do parque, serviços ecossistêmicos que podem ser enriquecidos com aquela espécie, aspectos ornamentais, entre outros”, explica Lívia Ansaloni, assessora de imprensa da FPMZB. “A escolha pelo Jequitibá para este plantio foi baseada em sua longevidade, adequação ao espaço, ser uma espécie já existente no parque e, também, considerando a importância de estratégias para preservação da espécie (sendo o parque um ambiente mais seguro e controlado para seu desenvolvimento)”. 

O GIGANTE DA FLORESTA NO ECOSSISTEMA 

Felipe Gomes, engenheiro ambiental e idealizador do coletivo “Ah, É Lixo!?” (@ahelixo, no Instagram), explica a importância de medidas como a que foi adotada pela PBH para o ecossistema: “Toda ação que visa plantar indivíduos dessa espécie em locais que eles terão a garantia de que vão crescer, se desenvolver e gerar fruta frutos é fundamental. Inclusive, um problema é a variabilidade genética, então, quanto mais espécies existirem, mais terão sementes diferentes para manter uma diversidade. Isso é fundamental para manutenção de qualquer espécie, então, a ação da prefeitura é extremamente positiva e espero que seja feita em larga escala.” 

A preservação de jequitibás é urgente não apenas por causa do seu valor cultural, mas também pelo seu papel ecossistêmico. “Uma árvore, independente da espécie, possui funções ecológicas importantes, como filtrar toxinas do ar, emitir vapor de água para umidificar o ambiente, reter água de chuva, (que, principalmente na cidade, evita a formação de enchentes), servir de abrigo e produzir sombra (uma árvore adulta corresponde a dez ares-condicionados sem gastar 1 kilowatt de energia)”, explica Gomes. “O jequitibá-rosa, especificamente, é uma árvore que tem os seus frutos apreciados por macacos, então há mais essa função.” 

Gomes explica ainda que uma etapa importante para que haja a conservação da espécie é a catalogação de matrizes, para que sementes possam ser coletadas futuramente: “Quando armazenadas no banco de germoplasma, podem ser utilizadas para produção de mudas em larga escala.” 

Para escutar o depoimento, clique no áudio abaixo:

Depoimento de Felipe Gomes

Ansaloni afirma que esses registros são realizados em Belo Horizonte através do trabalho do Jardim Botânico: “A instituição é responsável pela catalogação de espécies, entre elas o Jequitibá Rosa e mantém também um vasto banco de sementes para fins de conservação e pesquisa científica. O Jardim Botânico de BH realiza diversos planos, projetos e programas de conservação em parcerias com outras instituições (universidades, jardins botânicos e organizações públicas e privadas) em todo o país e no mundo, compartilhando conhecimentos e tecnologias para a conservação da biodiversidade”. 

O CASO DE CARANGOLA: UM JEQUITIBÁ MILENAR EM CHAMAS 

Até 1997, a Zona da Mata mineira abrigava um jequitibá-rosa de 54 metros de altura e pelo menos 1000 anos de idade. O município de Carangola presenciou um dos gigantes da floresta mais antigos do Brasil arder em fogo durante 11 dias seguidos. De acordo com Braz Cosenza, biólogo que acompanhou o caso, o incêndio provavelmente foi criminoso, já que uma fogueira foi feita no pé da árvore: “Existia uma demanda para a desapropriação daquela área (onde o jequitibá estava) para criar um parque municipal. Tudo aponta que (quem provocou o incêndio) era uma pessoa que não tinha interesse nessa desapropriação”. Cosenza relata que a linha de investigação mais robusta do caso identifica a tentativa de matar o jequitibá para que não houvesse a construção do parque.  

“No caso de árvores muito grandes, ou seja, com muita matéria orgânica, o fogo se alastra para o interior do jequitibá, provocando o que chamamos de ‘efeito fogão de lenha’. Chegou ajuda de todos os lugares, como bombeiro e empresas de combate ao incêndio, mas o fogo não conseguiu ser debelado. Depois de 11 dias, todo o interior da árvore foi consumido e o fogo cessou”, explica Cosenza.  

O episódio da morte do jequitibá-rosa de Carangola foi emblemático: uma árvore que sobreviveu a tempestades e vendavais por séculos e era frequentemente visitada por moradores e turistas por causa da sua inacreditável resistência, foi consumida pelo fogo ateado propositalmente. E, justamente por isso, é fundamental que haja duas ferramentas importantes para preservar a espécie: conscientização e conhecimento. “É importante identificar com uma placa ao lado da espécie, contando quem ela é, o motivo de ela estar plantada ali, que dia foi plantada, de qual matriz foi coletada sua semente, quanto tempo ela ficou no viveiro antes de ser plantada, qual é o status de vulnerabilidade dela…”, ressalta Gomes. “Trazer todas essas curiosidades sobre o jequitibá é uma das medidas que colabora com a sua preservação”.  

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