Ocupação no Dops para torná-lo memorial completa dois meses

Por Yana Zebian
A ocupação no antigo Departamento de Ordem Política Social (Dops) chega aos dois meses. O protesto é motivado pelo atraso de mais de sete anos para a transformação do espaço, usado para tortura e repressão durante a ditadura, em um memorial às vítimas do período do regime civil-militar. Os movimentos sociais ocuparam o prédio no dia 1º de abril deste ano. Mesmo com o apoio da Comissão da Verdade de Minas Gerais, desde 2018 não houve avanço na ressignificação do local.
O local foi usado durante a ditadura como um quartel-general da Polícia Civil para prisão, interrogatório e tortura das pessoas classificadas como integrantes da suposta “ameaça comunista”. O local é um marco da repressão, palco de práticas violentas e sanguinárias, prisões arbitrárias, violação dos direitos humanos e restrição da liberdade política. O edifício também abrigou o Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI- Codi), em 1971, que existia em comunhão com o Dops, no terceiro andar do prédio.

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Os manifestantes que ocuparam o prédio público exigem a abertura imediata do memorial. Enquanto aguardam o reconhecimento governamental, os manifestantes desenvolvem um projeto que revitaliza a história do prédio, investindo em visitas guiadas, exibições de filmes e outras atividades.
O jornalista Pablo Friche da Mata Machado, um dos responsáveis pelo protesto, apresenta as visitas guiadas e explica que o tour acontece de quarta a domingo, em horários que estão divulgados no Instagram do movimento @ocupeomemorial. Mais de 500 pessoas visitaram o lugar “Fizemos em 50 dias o que não fizeram em 7 anos”, afirma Pablo. O jornalista conta um pouco da motivação e dificuldades da ocupação.
Com o sucesso da ocupação, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) suspendeu a ordem de despejo do local, que tinha sido solicitada pelo governo de Romeu Zema. O advogado Daniel Deslandes entrou com um recurso pedindo a revisão da decisão que o autorizava. A solicitação foi acatada pelo desembargador Luis Carlos Balbino Gambogi, que suspendeu, temporariamente, a ordem judicial, marcando uma audiência para resolver a situação. O estudante Danilo Albuquerque Mendes Castro conta, no vídeo abaixo, sobre sua experiência na ocupação, sobre a importância do resgate da memória histórica e deixa uma mensagem para a sociedade.